CARLA GUIMARÃES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM GOIÂNIA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM GOIÂNIA
Há dois meses de volta ao cargo de procurador de Justiça de Goiás, o
senador cassado Demóstenes Torres (ex-DEM) tem dado pareceres em que
enaltece o direito de ampla defesa dos acusados, usa escutas telefônicas
como prova e diz que o crime não é um caminho para a riqueza.
Em agosto, Demóstenes analisou 29 recursos. Passaram por sua avaliação
apelações criminais sobre violação de direito autoral, homicídio,
tráfico e roubo, além de pedidos de revisão criminal.
Demóstenes Torres, hoje procurador, quando era senador |
Em um de seus pareceres, o procurador usa o grampo como a principal prova para a acusação de traficantes.
Demóstenes foi cassado após desgaste provocado justamente pela
divulgação de conversas telefônicas que mostraram sua proximidade com o
empresário Carlinhos Cachoeira. Em algumas delas, o então senador
tratava o contraventor de "professor" e era saudado como "doutor". No
auge do escândalo, Demóstenes chegou a atacar a divulgação de gravações
"montadas e editadas" pela Polícia Federal.
Em um parecer contra traficantes em Goiás, no entanto, o procurador diz que escutas servem como prova.
"Tal assertiva acerca dos laços estreitos que envolvem os recorrentes
não consistem em mera ilação abstrata, mas sim, conclusão lógica
derivada do áudio das escutas telefônicas interceptadas", escreveu
Demóstenes.
Em outro texto, o ex-senador trata de um caso de sonegação de impostos.
"Ora, o crime não pode ser alternativa aceitável para a solução de
dificuldades de ordem financeira. Se assim o fosse, legalizado estaria o
procedimento dos delinquentes, que vivem do cometimento de delitos para
fugir da pobreza e a alegam com a mesma frequência que os tribunais a
rejeitam", escreveu.
AMPLA DEFESA
Demóstenes defendeu que foi acusado e cassado, em julho, sem provas e sem o direito à ampla defesa.
Agora, em diferentes pareceres como procurador, o ex-senador toca no assunto.
Ao analisar uma apelação de condenados por tráfico de drogas, afirmou em
seu parecer que "a ampla defesa há de se manifestar na feição da
autodefesa e da defesa técnica, a qual necessariamente deverá ser
razoável e eficaz na proteção dos direitos e garantias do réu".
No Ministério Público de Goiás, os processos criminais não
especializados, como a apelação e revisão criminal, são distribuídos aos
procuradores por sorteio eletrônico.
Eles são enviados ao órgão pelo Tribunal de Justiça, para onde voltam após o parecer dos procuradores.
LIGAÇÃO COM CACHOEIRA
O inquérito para apurar o envolvimento do ex-senador com Cachoeira tramita sob sigilo no Tribunal Regional Federal da 1ª Região.
Já a Corregedoria-Geral do Ministério Público em Goiás instaurou uma
reclamação disciplinar que vai apurar a idoneidade de Demóstenes para
ocupar o cargo. O processo ainda está em andamento.
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