FELIPE SOUZA COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O delegado da Polícia Civil Fábio
Pinheiro Lopes, que matou dois homens na tarde deste domingo em
Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, afirmou que a violência
paulistana é um problema social. Lopes disse que atirou em dois
suspeitos após roubarem joias, relógios e celulares dele e da mulher no
estacionamento do supermercado Mambo, na rua Deputado Lacerda Franco.
Ao ser questionado sobre a violência na capital paulista, Lopes disse à Folha
que não se sente inseguro na cidade e que a função da polícia é apenas
“dar resguarda” à população. “Esse problema [da violência] não acontece
só aqui, mas em todo o Brasil. Eles [suspeitos] fizeram isso comigo
porque não tiveram condições de estudar. Temos que dar educação às
pessoas para melhorar a segurança”, disse.
O delegado afirmou que foi abordado por
dois homens após descer com o filho e a mulher do carro importado dele,
um Chevrolet Camaro. A dupla rendeu o delegado e a mulher. Os suspeitos
pegaram os relógios e joias do casal.
Segundo Lopes, um dos suspeitos pediu
para que o delegado abrisse a porta do carro para que ele procurasse
mais objetos de valor. Ele disse que abriu a porta do carro e aproveitou
uma distração do suspeito para pegar a arma que estava no tapete e
disparar um tiro na cabeça do suspeito, que morreu na hora.
Lopes disse que acertou um disparo no
braço e outro no tórax do suspeito que rendia a mulher dele. Segundo o
delegado, mesmo ferido e caído o homem tentou reagir. O policial acertou
um tiro no outro braço dele.
A dupla foi encaminhada ao Hospital das Clínicas, mas não resistiu aos ferimentos.
Segundo a polícia, os suspeitos estavam
com duas armas automáticas. Uma de fabricação israelense, calibre 9mm, e
outra de origem nacional, calibre.40. A numeração da pistola fabricada
no Brasil sinaliza que ela pode ter sido roubada de algum PM. Segundo
Lopes, a arma foi levada de um policial em 2008, na zona leste.
Um dos suspeitos foi identificado. Na
casa dele, a polícia disse que encontrou uma arma, cinco relógios e duas
bolsas de uma grife estrangeira. O outro homem estava com documentos
falsos e ainda não tinha sido identificado. A suspeita da polícia é que a
dupla faça parte de uma quadrilha especializada nesse tipo de assalto.
O caso foi registrado no DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa).
Em nota, a assessoria de imprensa do
supermercado Mambo informou que lamenta o ocorrido e que “sempre adotou
os mais rigorosos procedimentos de segurança em suas instalações”.
Ao ser questionado sobre o valor do
carro, que chega a custar R$ 172.437,00, segundo a tabela Fipe
(Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), o delegado disse que tem
condições de comprar o veículo e que tem outro emprego para complementar
a renda familiar. “Não sou só delegado. Tenho um cargo na direção de
uma grande empresa de segurança do Brasil”. Ele afirmou ainda que fez um
financiamento para comprar o veículo. “Ainda faltam 30 parcelas para eu
pagar esse carro [Camaro]“.
INVESTIGAÇÕES
O delegado Fábio Pinheiro Lopes foi
investigado em 2009 pelo Ministério Público Estadual e pela Corregedoria
da Polícia Civil sob suspeita de ter comprado cargos de chefia na
Polícia Civil de São Paulo.
As investigações começaram após o
depoimento do ex-policial civil Augusto Peña dado à Promotoria em
fevereiro de 2009. Peña, que não apresentou provas, disse que
intermediava negociações entre policiais e o então secretário-adjunto da
Segurança Lauro Malheiros Neto.
De acordo com ele, Lopes pagou R$ 110 mil
a Malheiros Neto para assumir a 3ª Delegacia de Investigações Gerais do
Deic (divisão de combate ao crime organizado).
Lopes deixou as funções após a saída de Malheiros Neto da secretaria. Depois, ele foi para o 99º DP (Campo Grande).
Em depoimento, Peña confessou esse e
outros crimes na tentativa de obter o benefício da delação premiada para
reduzir a pena. Lopes negou todas as acusações contra ele.
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